Em uma
noite gélida de maio, murmúrios ocorreram no pequeno bairro da
capital de Mato Grosso do Sul. Como de costume, as mulheres com os
filhos pequenos saíram às seis da tarde para ir nas igrejas da
redondeza, rapazes e moças seguiam com os cadernos nas mão, uns com
mochilas e pastas, seguiam em direção do pequeno terminal de ônibus
que levava consigo o nome do bairro.
O tempo
não era de costume, como sempre faz calor, uma pequena queda de uns
graus na temperatura faziam-se que as pessoas se acolhessem cedo para
se refugiar do frio, já os visitantes desta cidade saíam para os
quintais tomarem uma cerveja, melhor dizer, mais que uma, pois como o
calor é muito, nada melhor para se refrescar na brisa de ar quente
uma gelada, não importa a marca, sendo cerveja já saciava as
gargantas quentes de um dia de sol.
O
ambiente não é considerado hostil, nem frenético, pois este bairro
é o mais tranquilo que se tem em uma cidade tão grande, pode-se
perder só de imaginar ainda mais para aqueles que são visitantes
e que se hospedam perto do terminal de ônibus. Algumas pessoas tinham
como apelidos de secos, chatos ou vizinhos que nem olham para o lado,
salvo para atravessar a rua, mas se tiver alguém do lado, esqueça,
pois é mais fácil serem guiados pela sobra de quem está perto do
que olharem para os lados, entretanto de noite as coisas são
diferentes, aguçam-se os ouvidos e as percepções de movimentos
para se locomoverem. Creio eu que estou em Curitiba!
Mesmo em
um bairro tão calmo e sereno, ecoava pelos ventos calmos que cobriam
o bairro, gritos não sincronizados, pedidos de socorro. Uma pequena
multidão se formava próximo ao terminal de ônibus, chamado de
Moreninha. A multidão descontrolada buscava auxilio nas casas
vizinhas, olhares curiosos atrapalhavam os movimentos de quem corria
atrás de ajuda. Como as mulheres que tinha suas crianças pequenas
estavam nas igrejas, não apareceu crianças na rua neste momento que
se pode de chamar de pânico. Algumas senhoras de coquinhos brancos
que saíram de suas casas para saber o porquê de tantos gritos,
chegaram a passar mal em plena luz da lua sobre as pequenas pedras
que mostrava que a rua estava gasta. Além do pânico geral que tomou
conta, os desmaios das senhoras apavorou ainda mais, principalmente
aqueles curiosos de plantão.
Em meio
aos gritos, vozes clamavam por deus, ajuda dos céus, era uma cena
horrível, ainda mais assustadora para os jovens que não sabiam o
que fazer. Mas o que fazer? Os celulares com os flash iluminavam o
ambiente a cada foto tirada, parecia cena de filmes de investigação
policial americana, que acontece sempre de noite para dar mais
suspense ao episódio e que acaba quando a polícia chega. Entretanto
nenhuma viatura apareceu no local, mesmo com inúmeras chamadas de
celulares, o pedido de socorro e ajuda de quem ligava demorou a serem
atendidas. Mas o que fazer em uma situação dessas?
Em meio
a multidão uma pessoa saiu correndo desesperada com um pano branco
nas mãos, era uma mulher de estatura mediana, parecia com a luz da
lua que tinha uns trinta anos, óculos de pouco grau e cabelos
escuros soltos ao vento, tina por vestimenta uma camisa regata e
short jeans, sem calçado. Mas que de presa cobriu o fato que
causara tanto pânico com o pano branco e levantou as mãos para cima
e gritou em bom alto tom, — Calem-se, acalmem, já passou, nada de
pânico, vamos manter a ordem e a paz por favor! Vamos aguardar a
polícia, levem as senhoras para suas casas, logo vamos resolver tudo
isso, mas calmem-se! — bradou-a, transparecia estar bem calma ao se
comparar com as pessoas. Com os olhos arregalados, intimidou os
curiosos aguardadem os celulares nos bolsos como se nada tivesse
acontecido, e, ao passo de uns dez minutos duas viaturas policiais e
duas ambulâncias chegaram no local, os responsáveis que receberam
as chamas separou algumas pessoas mais próximas e isolaram o local.
A cena
que causaram pânico geral, nada mais era do que um homicídio de tal
forma qualificado, sem procedência dos assassinos. A vítima era uma
jovem mulher de cabelos curtos e negros, pele branca, olhos
castanhos, usava roupas de frio, calça jeans, tênis de marca
desconhecida, sem nenhuma logo, mas de cor preta, meias cinzas, blusa
marrom. Mas quando a multidão chegou, os olhos se depararam com a
blusa aberta, peito ensaguentado, mãos amarradas e as pernas entre
abertas. Uma grande poça de sangue escorria lentamente pois com a
temperatura considerada um pouco fria, fazia com que o sangue não
percorresse tão longe do corpo. A vítima estava com os peitos
cortados e colocado ao lado da cabeça e em sua testa um sinal de
cruz.
A
polícia demorou para examinar o local, até que a viatura que levam
os corpos, o IML chegasse no local, nada foi mexido, apenas quando
tudo estava pronto para ser averiguado e transladado o corpo, os
policiais e a perícia da capital tomaram por parte a busca por algum
documento para que fosse identificado o corpo. As senhoras que haviam
passado mal já estavam medicadas e em suas casas, e notava-se que as
mesmas senhoras estavam com os olhos vidrados na janela e salvo
algumas que mesmo não resistiam a curiosidade estava nos portões
com as colegas e compadres.
Até a
saída das viaturas algumas pessoas que residiam na rua próximo onde
o incidente ocorreu, tinha por nome simples, Meriti, agora marcada
por sangue e gritos. Após a saída de todos os veículos, persistiam
os mais curiosos em meio a rua. A lua em si já havia desaparecido
atrás das finas nuvens que cobriam o céu escuro, data-se a hora
marcada pontualmente as oito da noite. A demora para tal caso a ser
verificado pelos serviços da prefeitura, teve por consequência
alguns jornalistas que estavam próximo ao bairro e até mesmo os que
estavam de plantão, e, especialmente aqueles que com a lábia
compravam os vídeos e imagens das pessoas, que ao menos nem
respeitam a pobre moça e seus peitos expostos na rua. Esses sim,
chamo de abutres, mal ouvem uma simples morte que já voam em cima
para tentarem uma promoção como melhor jornalista da cidade, salvo
os estagiários que buscam se aprimorar para serem qualificados.
Devido a
demora para tomarem ciência sobre o caso, passava-se em boca a boca
e até inventavam histórias sobre o incidente que despertou a
população a saírem de casa, mesmo afirmando que sentiam frio. Se o
caso ocorresse de madruga ninguém ia encontrar a moça, mas ai dos
que trabalham cedo, com certeza perderiam o horário para saciar a
curiosidade.
Mas após
toda a confusão e a mediocridade da população, onde foi parar a
moça que aquietou os gritos e o pânico? Ninguém sabia explicar de
onde saíra e de onde voltara. Além do caso, a moça que tomou
coragem para penetrar-se entre a multidão e agir como uma cidadã
que sentiu incomodada pela cena, virou o segundo mistério desta
noite de sexta-feira, inesquecível vinte e quatro de abril de 2015.
Jean
Wendrell
08/05/2015
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